Encerramento de duas empresas de ônibus do RN expõe crise no setor de transportes, que pede ajuda

Crise do setor prejudica usuários. Federação do Transporte defende implantação de subsídios aos passageiros

O encerramento das atividades de duas empresas de ônibus que atuavam na Região Metropolitana de Natal ocorrido entre janeiro e abril deste ano expõe a grave crise econômica que o setor de transportes enfrenta. O alerta é Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Nordeste (Fetronor). Em 2022, as empresas Parnamirim Field e Auto Viação Campos (MDC) fecharam as portas.



“Essa crise já vem de algum tempo. Ao longo das últimas décadas, temos acompanhado a falta de investimentos para o transporte, ao mesmo tempo em que a venda de carros e motos cresceu significativamente. O transporte foi ficando de lado, e a situação piorou ainda mais com a pandemia da Covid-19”, explica o presidente da Federação, Eudo Laranjeiras.

As linhas que as empresas operavam (a Parnamirim Field atuava nas linhas do Parque Industrial, em Parnamirim, e a Campos nas linhas do litoral sul, como as que ligam Tabatinga e Pirangi do Sul a Natal), foram repassadas emergencialmente para outras empresas, sem causar prejuízos aos usuários.

“Por enquanto, as empresas maiores ainda têm condições de socorrer as linhas que as empresas menores estão deixando. Mas e quando nem as maiores tiverem condições disso?”, considera Eudo.

O presidente releva, inclusive, que as empresas maiores só conseguiram prestar suporte por já terem sido vendidas. “Há anos, as empresas da Grande Natal têm sido vendidas a grupos maiores, que também já atuam em outros estados, pois não teríamos condições de nos manter”, afirma Eudo.

Falta do transporte já é realidade em 89 municípios do RN


Segundo o presidente, a falta de ônibus já é a realidade de 89 municípios do Rio Grande do Norte, onde as empresas deixaram de operar as linhas regulares, e hoje a população conta apenas com o transporte clandestino. “O transporte é um direito, mas que a população não tem conseguido usufruir. Com a crise que o Setor enfrenta, as empresas foram deixando as linhas, e hoje a população não tem o transporte regular nem os benefícios que ele oferece, inclusive a gratuidade. A mobilidade urbana das pessoas no interior já está prejudicada”, diz.

Eudo explica que a crise teve início no segmento do transporte rodoviário, com o crescimento do transporte clandestino. “Desde o final da década de 1990, o transporte já enfrentava essa concorrência, que cresceu com o passar do tempo. O transporte rodoviário foi o primeiro e o mais prejudicado. No urbano e no metropolitano, conseguíamos ir mantendo. Mas a situação está chegando em um patamar impossível de sustentar, com o custo aumentando e a conta recaindo para o bolso do passageiro. Infelizmente, se nada for feito, a tendência é que ocorra o mesmo do rodoviário: empresas falindo e linhas sem serem operadas”, afirma.

Subsídio para o passageiro é essencial


Para Eudo, a implantação de subsídios para financiar os sistemas de transporte público é essencial para melhorar a qualidade do serviço prestado aos usuários e as condições da mobilidade urbana. A medida, comum em diversos países há anos, tem crescido nos últimos tempos em vários sistemas do Brasil. O Presidente da Federação considera que a medida é um importante benefício voltado para o usuário do transporte, não para a empresa.

“O formato que temos hoje do financiamento do transporte público se esgotou. É um serviço caro para os usuários, mas que é insuficiente para as empresas cobrirem os custos e serem remuneradas. Daí surge a verdadeira função do subsídio: equilibrar a relação entre o custo da operação e o valor da tarifa. E isso vai tornar o serviço do transporte adequado à realidade. O subsídio não é para as empresas. Ele se reverte diretamente ao usuário, que está pagando a tarifa”, relata Eudo.

Eudo cita como exemplo o trem da Grande Natal. “O usuário que anda no trem da Grande Natal, paga a tarifa no valor de R$ 2,50. Mas a tarifa somente é essa porque o Governo Federal subsidia a maior parte do custo da operação. Sem o subsídio, o valor real da tarifa do trem na Grande Natal chegaria a mais de R$ 10. Mas o usuário paga apenas um valor simbólico e em um transporte que tem uma qualidade, graças ao subsídio. Esse exemplo precisa ser seguido pelos demais gestores no transporte público como um todo”, afirma.

“Mais do que um caminho, o subsídio é uma necessidade aos usuários. É uma questão de sobrevivência do sistema de transporte público, ao mesmo tempo que pode garantir a melhoria da prestação de serviço. Continuar como está, com o usuário financiando tudo, é injusto para quem paga e vai continuar levando a falência das empresas”, considera.

Fonte: Agora RN