Apenas aumentos do diesel em 2015 devem ter impacto de 2,8% nas tarifas de ônibus, dizem empresas

Setor busca soluções de curto prazo para reduzir custos. Faixas de ônibus, por exemplo, podem diminuir gastos entre 10% e 20% na operação de transportes e são de rápida implantação

Por Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Com mais um aumento do valor do óleo diesel, que nesta quarta-feira dia 30 de setembro foi de 4% nas refinarias, passageiros de transportes coletivos devem estar preparados para uma pressão maior sobre as tarifas, em especial no ano que vem.


Empresas de ônibus em todo o Brasil calculam impacto de 2,8% nas tarifas por causa dos atuais aumentos do diesel, isso se não houver novos reajustes do combustível neste ano.

Em entrevista ao Blog Ponto de Ônibus, nesta sexta-feira, 02 de outubro de 2015, o diretor administrativo e institucional da NTU – Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, Marcos Bicalho, disse que apenas os aumentos do óleo diesel podem deixar as tarifas de ônibus em torno de 2,8% mais caras.

“Ainda não foi definido quanto será este reajuste do diesel para as empresas. Mas deve ser muito próximo ao que foi nas refinarias. Por exemplo, em fevereiro, quando o diesel subiu 5,4% nas refinarias, para as empresas foi de 5,3%” – relembra.

Marcos Bicalho explicou que somente em 2015, o diesel na operação dos transportes coletivos acumula alta de 7,3%. Levando em consideração que para as empresas de ônibus, este último aumento no diesel seja semelhante ao índice aplicado para as refinarias, o diesel para o transporte coletivo deve ficar 11,3% mais caro neste ano, isso se não houver mais aumentos definidos pela Petrobras.

Como este combustível tem um peso de 25% no custo total de operação dos ônibus, logo, o impacto deve ser em torno dos 2,8%

No entanto, pelo fato de 2016 ser de eleições municipais, há a expectativa de os prefeitos congelarem as tarifas ou reduzirem os percentuais de aumento. Com isso, seriam necessários subsídios maiores ou as empresas trabalharem com margens mais reduzidas, comprometendo investimentos.

Bicalho lembra ainda que há outros fatores que devem exercer forte pressão nos custos de operação e consequentemente no valor das passagens.

O Governo Federal determinou nova alíquota sobre a folha do pagamento do setor, que deve passar de 2% para 3%, mas há expectativas sobre o tema. A reoneração faz parte do ajuste fiscal, envolve 56 setores e deve entrar em vigor em dezembro. Por uma medida provisória ou outro instrumento, há a promessa de a alíquota sobre a folha do transporte coletivo ser estipulada em 1,5%, o mesmo que é cobrado para a aviação civil. No entanto, o executivo disse que o tempo está passando e não houve ainda nenhuma sinalização concreta por parte do governo.

QUEDA DE DEMANDA E MEDIDAS DE CURTO PRAZO:

Bicalho também vê como preocupante a queda de demanda dos passageiros este ano por causa da crise econômica.

Segundo ele, em algumas regiões do País, sobretudo as mais industrializadas onde o desemprego tem sido mais evidente, o número de passageiros no transporte coletivo registra uma queda em torno de 5%.

Esta queda reflete, segundo ele, na arrecadação das empresas com uma perda de produtividade, e também nos custos das tarifas.

“Quanto menos passageiros transportados, maior é o valor da passagem” – explica

Ainda sobre os custos de operação , o diretor da NTU vê com preocupação as taxas de juros mais altas para financiamentos de ônibus novos, com destaque para o Finame, e diz que, o peso do retorno da Cide – Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico, o chamado imposto do combustível, deve ser levado em consideração, mesmo com alguns ajustes para o setor.

Bicalho aposta que a meta de o Brasil ter transportes mais eficientes e com custos menores para a população passa por um equilíbrio financeiro do setor e a Emenda Constitucional que tornou o transporte coletivo Direito Social deve colaborar com este objetivo, ao tornar mais claras e menos burocráticas ações para o setor. Mas isso em médio e longo prazo.

Para agora, as empresas cortam os investimentos, como em renovação de frota, o que pode comprometer a qualidade de serviços. A redução na oferta de transportes também deve ser uma solução que não deve trazer impactos positivos do ponto de vista político.
O executivo, no entanto, diz que em curto prazo, medidas simples podem também aumentar a produtividade, melhorar a qualidade e ao mesmo tempo reduzir os custos de operação dos transportes.

“Um exemplo são as faixas exclusivas para ônibus. Fizemos um ensaio aqui na NTU que mostra que se a velocidade média comercial dos ônibus subir de 15 km/h para 25 km/h, a redução nos custos pode ser de 20%.” – exemplifica. “Mesmo que não haja uma velocidade de 25km/h, mas se houver um aumento na velocidade comercial, já existe um ganho para a população e as faixas de ônibus são soluções baratas e de curtíssimo prazo” – continuou Marcos Bicalho que destacou como positiva a implantação das faixas de ônibus na cidade de São Paulo. Nas faixas analisadas pela CET – Companhia de Engenharia de Tráfego, a velocidade média dos ônibus que era de menos de 12 km/h passou para 20,1km/h.

Bicalho disse entre faixas de ônibus, corredores simples e BRTs – Bus Rapid Transit (sistemas de ônibus com mais velocidade e maior capacidade) existem 200 projetos em andamento.

Fonte: Blog Ponto de Ônibus