Ônibus perdem 12,8 milhões de passageiros para aviões

Queda vale para viagens com distâncias superiores a 75 quilômetros. Setor aéreo já atende mais passageiros que o rodoviário interestadual.

Por Adamo Bazani Jornalista da CBN, especializado em transportes.



O ônibus tem como principal vantagem em relação ao setor aéreo a capilaridade. Ele vai onde os aviões não conseguem chegar por falta de estrutura ou condições técnicas. Outros destaques são tarifas constantes, ou seja, para pagar menos não é necessário comprar a passagem com meses de antecedência, e os veículos que estão cada vez mais modernos oferecendo níveis de conforto superiores a qualquer aeronave.

Mas para conquistar e recuperar passageiros, as empresas de ônibus vão ter de oferecer muito mais que isso.

Pelo menos é o que indica balanço da Anac – Agência Nacional de Aviação Civil que mostra que em dez anos, de 2004 para 2013, os ônibus perderam 12,8 milhões de passageiros para o setor aéreo.

Este número não engloba apenas “novos viajantes”, mas também pessoas que realmente trocaram as estradas pelo ar.

Com isso, o avião se tornou o principal meio de transporte em distâncias acima de 75 quilômetros de extensão.

Em 2004, os ônibus interestaduais transportaram 67,2 milhões de passageiros. Em 2013, este número caiu 19% indo para 54,4 milhões.

Já os aviões em 2004 atendiam 29,9 milhões de pessoas. Já em 2013, este número tinha crescido 177,9% indo para 83 milhões, um crescimento de 53,1 milhões de passageiros.

A obtenção dos dados de crescimento do setor aéreo e de queda do setor rodoviário foi possível através do cruzamento de dados oficiais da Anac – Agência Nacional de Aviação Civil e da ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres.

Ainda de acordo com este comparativo, houve uma inversão do tipo de modal mais significativo em relação ao número de pessoas atendidas.

Em 2004, o transporte rodoviário era responsável por 69,2% do total de pessoas que se deslocavam entre estados diferentes e o aéreo por 30,8%.

Em 2013, o transporte rodoviário respondia por 39,6 % dos passageiros em deslocamentos interestaduais e o aéreo por 60,4%.

Entre os principais fatores que explicam estes dados estão a popularização dos preços das passagens aéreas e incentivos fiscais às empresas de aviação.

EM VEZ DE RECLAMAR, EMPRESAS DE ÔNIBUS DEVEM AGIR

As empresas de ônibus, apesar de não contarem com os mesmos benefícios governamentais que as companhias aéreas, não podem apenas ficar reclamando.

Apesar de o atendimento na aviação brasileira não ser o melhor dos mundos, ainda em boa parte das empresas de ônibus, os passageiros ainda são vítimas de pontos de apoio e rodoviárias em péssimo estado, de veículos antigos e de motoristas e agentes de rodoviária que não são capazes nem de dar “um bom dia” para o usuário.

Há grandes empresas de ônibus que investem em treinamento de pessoal e comodidades para o passageiro. Mas elas não representam ainda todo o universo do transporte rodoviário.

Os empresários de ônibus estão certos quando reclamam do tratamento privilegiado ao setor aéreo.

Mas estão redondamente errados ao não querer mudar.

Passageiro, ainda mais com opção, é cliente. Mas as empresas de ônibus, de uma maneira geral, não conseguem ainda tratá-lo como merece.

Não dá prá competir com a velocidade do avião. Mas é verdade que a qualidade da aviação brasileira, contanto com a atuação das empresas e a estrutura dos aeroportos, é baixa ainda.

Perder passageiros para o avião por causa da popularização de preços é compreensível, mas perder tão feio assim mostra que as empresas de ônibus não sabem aproveitar as brechas da aviação. Os empresários devem deixar o corporativismo, o orgulho e as críticas às notícias deste tipo de lado, sentarem e perguntar: no que erramos?

Fonte: Blog Ônibus Brasil