'Tem de se dedicar 100% para dar certo', diz fundador da Marcopolo

Aos 86 anos, Paulo Bellini combina a sabedoria adquirida ao longo dos anos com a ousadia jovial que fez dele um dos mais bem-sucedidos empresários do Rio Grande do Sul. Ele é fundador e presidente emérito da Marcopolo, uma das maiores fabricantes de carrocerias de ônibus do mundo.


Créditos: Julio Soares/Divulgação

Um dos oito irmãos de uma família de Caxias do Sul, Bellini conta que teve uma infância sem dificuldades. Já maior de idade, foi estudar em Porto Alegre. Voltou para Caxias e fundou a primeira empresa de carrocerias em 1949, junto com os irmãos Nicola, amigos de longa data da família. Era ele quem cuidava da administração e de todos os trâmites contábeis da empresa, buscando aprimorar cada vez mais o empreendimento e a equipe.

Em menos de 20 anos a Nicola & Cia se transformaria na Marcopolo, nome motivado por um modelo de ônibus que foi apresentado no Salão do Automóvel em 1968. Hoje, a empresa conta com mais de 22 mil colaboradores e tem fábricas no Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro e em países como Argentina, Austrália, África do Sul e Índia.


Determinação e aposta nas pessoas
Boa parte do sucesso mundial alcançado pela Marcopolo é fruto do trabalho de Bellini e de um time de profissionais qualificados. Mas para atingir esse patamar foi preciso muito esforço, dedicação e estratégia. “As dificuldades foram enormes. Não tínhamos capital de giro, crédito e nem dispúnhamos de tecnologia. Pegamos dinheiro emprestado, inclusive do meu pai, e fomos fazendo as coisas acontecer. Lembro que, várias vezes, precisamos recorrer ao dinheiro de agiotas”, conta Bellini.

Força de vontade e atitude, no entanto, eram atributos que não faltavam para aquela pequena equipe que resolveu empreender no interior do Rio Grande do Sul em plena década de 1950. “Montamos algo que não existia em Caxias do Sul e nem na região" conta Bellini. "Você tem de se dedicar 100% ao seu negócio para que ele possa dar certo. É preciso ter determinação e fazer as coisas acontecerem. Somente assim o seu negócio poderá prosperar e você atingirá os seus objetivos”, destaca.

Na condição de administrador, o empresário percebeu que para a empresa crescer precisava, antes de tudo, de capital humano. Por isso criou oportunidades para que os colaboradores participassem de cursos de qualificação. Já na década de 1960 buscou a definição de uma filosofia para a empresa traduzida no lema “A Organização é Antes de Tudo o Homem”. Na mesma época a Marcopolo fez as primeiras exportações.

O resto é história. Mais de 60 anos depois, Bellini decidiu colocar no papel a trajetória da empresa, das pessoas que construíram ela e dos desafios vencidos nessas seis décadas. O livro “Marcopolo: Sua viagem começa aqui” foi lançado no final do ano passado. “São memórias e relatos que revelam uma cultura empresarial peculiar, com a qual convivemos com naturalidade, sem nos dar conta da sua decisiva importância, e construída por muitos que, de alguma forma, se relacionam com a Marcopolo”, define.

Cinco perguntas para Paulo Bellini

G1 - O que motivou o senhor a abrir o próprio negócio?
Paulo Bellini - Naquela época, eu havia acabado de terminar o curso de contador e fui convidado a iniciar o negócio, juntos com os irmãos Nicola, de carrocerias de ônibus, algo que não existia ainda em Caxias do Sul e em toda a região.

G1 - Quais foram as maiores dificuldades?
Bellini - As dificuldades foram enormes. Não tínhamos capital de giro, crédito e nem dispúnhamos de tecnologia. Pegamos dinheiro emprestado, inclusive do meu pai, e fomos fazendo as coisas acontecer. Lembro que, várias vezes, precisamos recorrer ao dinheiro de agiotas, pois não havia a oferta de crédito que hoje existe nos bancos para pequenas empresas e negócios. Levávamos 90 dias para fazer um ônibus e, muitas vezes, ele precisava ser reparado, pois nem tudo estava certo.

G1 - O que o senhor considera sua primeira vitória como empresário?
Bellini - Acredito que a primeira vitória foi entregar o primeiro ônibus para o nosso primeiro cliente. Digo que ele foi muito corajoso em comprar o nosso produto e acreditar na gente.

G1 - Que conselho o senhor gostaria de receber quando estava começando e que poderia dar aos novos empreendedores?
Bellini - Dedique-se 100% ao seu negócio para que ele possa dar certo. Tenha determinação e faça as coisas acontecerem. Somente assim o seu negócio poderá prosperar e você atingirá os seus objetivos.

G1 - Na sua opinião, como o empreendedorismo pode contribuir para melhorar o país?
Bellini - O empreendedorismo pode contribuir muito com o desenvolvimento do Brasil. Primeiro porque o empreendedor faz as coisas acontecerem e inspira outros a também fazerem. Segundo porque o empreendedor, na sua maioria, acaba buscando na inovação o seu diferencial. E a inovação é fundamental para o desenvolvimento do país e da sociedade.

Fonte: G1 RS
Via Maxi ônibus Olinda