Um ano sem Busscar

Ontem, um ano após o decreto de falência da encarroçadora Busscar, o MOB Ceará traz um pouco da história desta tradicional e conhecida fabricante de carrocerias de ônibus, que é genuinamente brasileira.


Com sede na cidade catarinense de Joinville, a Busscar marcou por ter uma história de lutas e vitórias e pela sua garra para se manter no páreo entre as maiores encarroçadoras do país.
O embrião da marca
O início da história da Busscar começa com a criação de uma pequena marcenaria em Joinville, no mês de Setembro de 1946. O comércio, criado pelos descendentes de suecos Augusto Bruno Nielson e Eugênio Nielson, fazia móveis, esquadrias e balcões de madeira.
1ª Carroceria reformada - 1947
Até 1947, a empresa trabalhava apenas com pequenos móveis, e devido aumento das encomendas, a marcenaria começou a trabalhar com reformas de carrocerias de madeira para ônibus.
Chevrolet Gigante
Outra mudança no rumo da empresa, ocorreu em 1949, quando a primeira estrutura de carroceria para ônibus foi construida nas suas instalações. A carroceria, feita por encomenda de um empresário de Curitiba, foi montada em um chassi de um caminhão Chevrolet Gigante.
Um marco na história da empresa catarinense, ocorreu em 1956, quando Harold Nielson, filho mais velho de Augusto, participa do comando do negócio da família Nielson. Harold tinha uma visão mais ampla de crescimento, e foi o responsável direto pela transformação da pequena marcenaria, em uma das mais conceituadas encarroçadoras no Brasil.
Após a chegada de Harold, a empresa toma novos rumos e caminha a passos largos na vanguarda do segmento no Brasil, destacando-se com início da produção de carrocerias metálicas.
Primeiro ônibus moderno
 
1º Diplomata - 1961
Pouco depois do lançamento do revolucionário modelo Diplomata em 1961, a empresa da família Nielson deixa definitivamente o ramo da marcenaria e, em 1963, passa a se dedicar exclusivamente à produção de carrocerias de ônibus.
Por praticamente três décadas, o único modelo a ser produzido pela Nielson foi o Diplomata, que passou por sucessivas evoluções, para se adequar aos anseios de seus clientes.
 
Diplomata Articulado
Os ônibus urbanos eram uma necessidade nas grandes capitais, e a Nielson viu na década de 1980, a oportunidade de produzir seu primeiro ônibus para o segmento. O modelo "Urbanus", lançado em 1987, foi um grande sucesso de vendas.
 
Nielson Urbanus
Surgimento da marca Busscar
Em 1990, as Carrocerias Nielson passam a utilizar a marca BUSSCAR ÔNIBUS, dando início a marca que até hoje é conhecida no mercado Brasileiro e Internacional.
Com a mudança, a encarroçadora lança uma nova linha de ônibus rodoviários: Os modelos ElBuss e JumBuss, que sucederam o lendário Nielson Diplomata.
Em 1998, a marca de Joinville muda sua razão social: A então nomenclatura "Carrocerias Nielson S.A." passa a ser "Busscar Ônibus S.A.".


Ainda em 1998, a Busscar passa pelo seu primeiro grande baque: O trágico falecimento do visionário patriarca Harold Nielson em um acidente aéreo, comoveu a cidade e provocou mudanças no conselho gestor da empresa.
Harold Nielson
O legado de Nielson ainda permaneceu nos produtos, que estão ligados ao conforto e a durabilidade. Porém na área da gestão, a empresa sofreu profundas mudanças, como, por exemplo, a elevação do status de empresa para multinacional.


Lançamentos
Investindo no mercado nacional, a Busscar ingressou no mercado de micro-ônibus em 1999, com o modelo Micruss e inovou no mercado de urbano com o Urbanuss Pluss que tornou-se referência.


Em 2001 lançou a nova família dos rodoviários, VisstaBuss e Jumbuss;


Em 2002 o Urbanuss Pluss Tour, o primeiro ônibus de dois andares para turismo na America Latina;


Em 2003 o primeiro Midi Ônibus com motor traseiro no Brasil chamado Miduss.


As empresas do grupo Busscar
 
As empresas coligadas da Busscar tinha atuação no ramo da indústria automotiva. A TECNOFIBRAS, no setor de plásticos e desenvolveu tecnologia própria durante seus mais de 25 anos de atuação no mercado. A CLIMABUSS, especializada na produção de ar condicionado para ônibus, iniciou suas atividades em 2002.
A esquerda - Climabuss / A direita - Tecnofibras
No total, o grupo Busscar era Composto pelas Empresas Busscar Ônibus S/A, Bus Car Investimentos e Empreendimentos Ltda, Buscar Comércio Exterior S/A, Lambda Participações e Empreendimentos S/A, Nienpal Empreendimentos e Participações Ltda., TSA Tecnologia S/A, TECNOFIBRAS HVR Automotiva S/A e CLIMABUSS Ltda., todas administradas Pelos Sócios-Diretores Claudio Roberto Nielson e Fabio Luis Nielson.
Crescimento e Crise

Com as operações da Busscar com ambição no mercado internacional, os mantras de Harold – preservar o caixa e a rentabilidade – ficaram no passado. A ordem era produzir mais para conquistar mercados.
E parecia mesmo que a estratégia estava dando certo. Dois anos após a morte de Harold, em 2000, a Busscar abocanhava um terço do mercado nacional de carrocerias de ônibus. No segmento mais rentável, o de ônibus rodoviários, a participação da empresa chegava a 40%.

Mas a verdade é que o salto foi maior que as pernas. Apostou-se muito no exterior e os resultados não corresponderam às expectativas.
O único lugar em que a Busscar se deu relativamente bem foi na Colômbia, impulsionada pela reestruturação do sistema de transporte coletivo da região metropolitana de Bogotá.
A marca ainda está em operações na Colômbia e até lançou um modelo semelhante ao Panorâmico DD brasileiro. A Busscar Colômbia batizou seu modelo de "Busstar".


Enquanto na filial colombiana, tudo parecia bem, na matriz as decisões erradas, finalmente, cobraram seu preço. Por falta de recursos, somada com as crises de crédito internacionais da época, a produção da Busscar minguou rapidamente. Em 2001, a companhia produzia cerca de 434 ônibus por mês. Dois anos depois, eram 79 e, no começo de 2004, só quatro.

As esperanças pela reestruturação da empresa, foram lentamente acabando, com uma sucessão de empréstimos e planos de crédito, e o sonho acabou em 27 de Setembro de 2012, quando a justiça decretou a falência da Busscar Ônibus S/A e 8 de Empresas do Grupo Busscar.
Em setembro de 2013, a justiça autorizou o leilão de diversos bens da empresa para quitar suas dívidas, o que, mais uma vez, confirmou o fim das operações de uma das mais tradicionais encarroçadoras nacionais.
O espírito empreendedor da Busscar continua todos os dias, voltado à satisfação dos clientes e principalmente à frente do seu tempo, como uma empresa genuinamente brasileira, que sempre está olhando para o futuro, e cada vez mais trabalhando para construir e fortalecer a marca BUSSCAR conhecida como “A marca do ônibus”.


"Não é que eu nunca esteja satisfeito. É que quando você atinge um patamar, logo precisa dar o passo seguinte."
Harold Nielson

Fonte: MOB Ceará
Pesquisa: Redetec; Revista Amanhã; A Notícia. Blog Ponto do Ônibus