Mobilidade, mobilidade, onde estás que não te encontro?

Usando a prosa e o verso, e dizendo uma grande verdade, um economista coloca o dedo na ferida

Vou usar a prosa e o verso, e fazer muito sucesso, dizendo uma grande verdade. Todos falam defendendo, todos lamentam querendo, mas poucos ainda conhecem a tal da mobilidade.

Eu também procuro ansioso, pelas ruas, pelas vilas, nos shoppings, nas praças tranquilas. Mas confesso desgostoso, reviro toda a cidade, e juro que não encontro a tal da mobilidade.

Ainda não caiu de moda a tal da sustentabilidade e o povo enlouquecido procura por todos os cantos a tal da mobilidade. Revira estantes, desfolha livros, surfa na internet. Debates nos cafés, confrontos nos congressos, frisson nos seminários. Parece revolução, carros na contra mão, desfiles e passeatas. Buzinaço, apitaço e panelaço tomam conta da cidade.

Todos cantando hinos, correndo, marchando e lançando, suas palavras de ordem. Vem a noite, vem o frio, vem a verdade. Apesar do movimento, nada saiu a contento, ninguém pôde ter o prazer, de olhar e pelo menos dizer: salve, salve, mobilidade!

Mas, Deus como dizem é pai. Um dia na calçada da Boa Vista, tive que virar artista prá poder caminhar. Telefone, poste, lixeira, parece até brincadeira e num descuido ligeiro, meti meu pé no bueiro e só pude falar ai!

Morri de dor e vergonha, mas foi nessa queda bisonha, que comecei a enxergar. Essa tal mobilidade, que enlouquece a cidade, começa no caminhar.

(*) Antonio Carlos de Moraes é economista e presidente da Comissão Técnica de Economia da Associação Nacional de Transportes Públicos – ANTP

Fonte: FETRONOR