VLT modernizará linha Natal/Extremoz

Na primeira etapa, o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), na Região Metropolitana, vai interligar Natal e Extremoz, percorrendo o mesmo trajeto usado hoje pelos trens da CBTU | Foto de: Júnior Santos
Para resolver boa parte dos problemas associados ao atual sistema de trens urbanos, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos vê a instalação do Veículo Leve sobre Trilhos como a principal saída. O VLT é um projeto antigo do Estado que, com financiamento do Ministério das Cidades, deve sair do papel até o início da Copa do Mundo a ser realizada no Brasil, em 2014, segundo expectativa tanto do Governo do Estado quanto do Governo Federal. A principal vantagem do VLT é fornecer um serviço bem mais rápido e ágil, diminuindo o intervalo entre um trem e outro e aumentando a oferta de transporte para a Região Metropolitana de Natal.

A primeira fase de implantação do projeto, justamente a que deve entrar em funcionamento até 2014, utilizará dois veículos VLT na mesma linha norte do atual sistema. Embora o percurso inteiro da linha inclua a cidade de Ceará-Mirim, num primeiro momento o VLT deve funcionar somente até Extremoz. Segundo a programação do Governo Federal, o edital do projeto será publicado até o fim do mês de setembro. O mesmo cronograma fixa o início do próximo ano como prazo para que a empresa que irá fabricar os vagões seja selecionada por licitação. "Estamos trabalhando para viabilizar o projeto até a Copa do Mundo. Esse é o projeto", explica João Maria Cavalcanti, superintendente da CBTU.

A fixação em viabilizar as mudanças na infraestrutura ferroviária da Grande Natal até a Copa do Mundo é motivada pelos benefícios em se aproveitar as facilidades do VLT no grande evento esportivo. Mesmo funcionando num itinerário semelhante, a concepção do transporte muda. Ao invés de uma locomotiva da década de 50 do século passado, o passageiro terá a disposição um trem rápido. De cerca de 17 quilômetros por hora, haverá um veículo que pode atingir 40 quilômetros, mais que o dobro. Os benefícios da velocidade maior não se encerram em si mesmos. Isso traz repercussões interessantes em outros pontos.

Ao invés de aguardar pelo menos uma hora e meia pelo trem, o passageiro terá que esperar no máximo 12 minutos, quando o projeto tiver sido implantado na íntegra. Por conta disso, o número de pessoas atendidas será bem maior. Se hoje a média de passageiro é de no máximo nove mil pessoas por dia, com o advento do VLT o número de beneficiados pode chegar a 60 mil pessoas num único dia. "Temos estudos que mostram que há demanda para esse número. O foco do VLT neste momento é o público da Região Metropolitana, formado principalmente por estudantes e trabalhadores. Um projeto desta natureza pode retirar muitos veículos particulares na rua", aponta João Maria.

Um outro ponto positivo é a integração com o sistema de ônibus. "Estamos tentando, e o projeto contempla isso, melhorar a integração entre trem e ônibus, que é uma coisa que hoje praticamente não existe. A integração entre trem e ônibus é fundamental para dar mais peso ao equipamento de transporte", explica o superintendente da CBTU.

O desejo do Governo do Estado é ampliar o serviço. Não há nada oficial: nem projeto apresentado e nem recursos federais garantidos. Contudo, a idéia é ampliar o percurso do VLT. Em primeiro lugar, com relação à própria linha norte. Depois, até São Gonçalo do Amarante. "Existe essa questão, mas ainda é uma expectativa, uma conversa. Levar até São Gonçalo seria interessante por conta do novo aeroporto, mas estamos concentrados em implantar a primeira fase. Depois poderemos pensar nessa ampliação", aponta João Maria Cavalcanti, superintendente da CBTU.

Modelo é muito usado, especialmente na Europa

O Veículo Leve Sobre Trilhos é uma das soluções de transporte e mobilidade mais usadas do mundo, principalmente na Europa. O VLT é um sistema de transporte que atende à oferta de transporte de massa existente entre o ônibus e o metrô pesado e tem sido usado no Brasil principalmente para atender as demandas existentes nas regiões metropolitanas.

Atualmente, a abrangência do termo VLT é muito ampla e envolve conceitos como: leveza, que propicia menor consumo energético e desgaste da via; acessibilidade, através do piso baixo e rampa de acesso para cadeiras de rodas; flexibilidade, com bom desempenho operacional, tanto em via segregada (desenvolvendo maiores velocidades) como em meio ao tráfego rodoviário urbano, com cruzamentos ao nível das ruas e operação por marcha à vista, para atender demandas urbanas de média capacidade e custo inferior aos sistemas pesados, no que se refere a implantação, operação e manutenção.

É praticamente um consenso a existência de uma "guerra" entre o VLT e o BRT, que trabalha somente com ônibus e também visa atender médias e grandes demandas, para conseguir se viabilizar nas grandes cidades do mundo. No fim das contas, cada modal possui suas qualidades e algumas pessoas, como o ex-governador do Paraná, Jaime Lerner, que é uma das maiores autoridades no assunto no mundo, não descarta a utilização das duas formas inclusive de maneira simultânea.

As principais vantagens do VLT são os benefícios ambientais, já que o nível de poluição é quase zero, além do baixo custo de manutenção. Uma solução possível é justamente manter uma infraestrutura de integração entre os dois modais. No Brasil, até agora, funcionam somente dois sistemas de VLT, embora existam outros em fase de projeto, como é o caso dos equipamentos do Rio Grande do Norte e da Paraíba.

Entre as cidades do mundo que usam o modal VLT estão: Paris e Montpellier, na França, Rotterdam, na Holanda, e Tunis, na Tunísia.

Os dois primeiros trens urbanos a funcionar com VLT foram os da Região Metropolitana do Cariri, região localizada no sul do Ceará, e da Região Metropolitana de Maceió, capital de Alagoas. O primeiro deles, o do Ceará, começou a funcionar no dia primeiro de dezembro de 2009, enquanto que o de Alagoas passou a operar em dezembro de 2010. Ambos acumulam problemas pontuais e, ao mesmo tempo, a satisfação dos usuários.

O VLT do Cariri transporta diariamente cerca de 1,4 mil pessoas, percorrendo nove estações ao longo de 13,6 quilômetros em 40 minutos. A linha férrea liga as cidades de Crato e Juazeiro do Norte, cidade de cerca de 260 mil habitantes que é o principal centro urbano da região. Segundo informações reiteradamente publicadas na imprensa local, o serviço é considerado de boa qualidade, por conta da tarifa baixa, do conforto e da rapidez.

Contudo, o metrô do Cariri também passou por problemas pontuais. Recentemente, colisões com carros particulares inutilizaram alguns dos trens, o que aumentou o tempo de espera de 45 minutos para uma hora e vinte. Por ter sido o primeiro do Brasil, o VLT do Cariri é considerado modelo.

Já em Maceió a evolução do sistema tem sido bem mais rápida e já há cinco veículos em funcionamento na região metropolitana. A meta do Governo de Alagoas é chegar a 18 veículos. Isso fará com que o tempo de espera se resuma a no máximo a cada 10 minutos. Cerca de 140 mil passageiros devem utilizar o VLT todos os dias, segundo perspectiva do Governo. Parte do VLT de Maceió deve ser contratada a partir do sistema de parceria público-privada.

Bate-papo

João Maria Cavalcanti, superintendente da CBTU-RN

"A licitação começa em setembro"

Como está o cronograma acerca da implantação do VLT?

Estamos trabalhando para viabilizar o projeto até a Copa do Mundo. Esse é o projeto. A licitação terá o edital publicado ainda em setembro e queremos contratar a empresa até o início do próximo ano. O VLT vai modificar e melhorar o cotidiano dos usuários do serviço de transporte ferroviário da Grande Natal.

Que mudanças são essas?

Hoje atendemos nove mil passageiros e chegaremos até 60 mil pessoas, tomando como base um único dia.

Há tanta demanda?

Temos estudos que mostram que há demanda para esse número. A nossa equipe técnica mostrou isso. O foco do VLT neste momento é o público da Região Metropolitana, formado principalmente por estudantes e trabalhadores. Um projeto desta natureza pode retirar muitos veículos particulares na rua. Esse dado é baseado na velocidade do VLT, na quantidade de pessoas por viagem, no número de viagens, etc. Os veículos vão poder transportar até 680 pessoas por viagem.

Que outros benefícios estão programados para atender à Grande Natal?

Estamos tentando, e o projeto contempla isso, melhorar a integração entre trem e ônibus, que é uma coisa que hoje praticamente não existe. A integração entre trem e ônibus é fundamental para dar mais peso ao equipamento de transporte.

E o projeto de ampliação para São Gonçalo do Amarante?

Precisamos primeiro garantir a primeira fase do projeto. Existe essa possibilidade, mas ainda é uma expectativa, uma conversa. Levar até São Gonçalo seria interessante por conta do novo aeroporto, mas estamos concentrados em implantar a primeira fase. Depois poderemos pensar nessa ampliação.

Fonte: Tribuna do Norte