Trânsito caótico, usuário insatisfeito

Foto: Carlos Santos/DN/D.A Press
Motoristas, usuários e empresários reclamam dos efeitos do trânsito sobre o transporte público em Natal
O sistema de transporte coletivo em Natal está cercado de reclamações. Os passageiros reclamam da quantidade insuficiente de ônibus que circulam na capital, da irresponsabilidade de alguns motoristas no trânsito, do valor da tarifa e do longo intervalo entre uma viagem e outra. Os motoristas reclamam do trânsito de Natal que, além de ser um fator causador de estresse entre a categoria, impede o cumprimento das metas de números de viagens por dia e tempo de cada percurso. O Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiro de Natal (Seturn), por sua vez, reclama da falta de educação do natalense no trânsito que resulta em diversos problemas para o transporte coletivo da cidade.

O motorista João Maria Inácio, 51, está na profissão há 30 anos. Ele conta que ser motorista de ônibus em Natal quando ele começou era completamente diferente de hoje. "Não tinha essa quantidade de carros nas ruas. Hoje em dia é muito carro para pouca rua e ainda tem um monte de genteque se diz motorista, mas só faz atrapalhar o trânsito", diz. Ele está há pouco menos de um ano na linha 78, que faz o percurso Santarém-Petrópolis. São cinco viagens por dia, cada uma com duração estimada de 80 minutos. "Tem hora que não dá para cumprir o horário estipulado. Nos horários de pico sempre tem engarrafamento, aí fica complicado".

O trânsito de Natal tem mesmo sido um grande problema para os motoristas de ônibus que circulam na capital. Austerliano Bezerra de Menezes, 44, é despachante da empresa Reunidas há seis anos. É ele quem controla o horário de saída e chegada dos ônibus e por isso sabe exatamente o tempo de cada viagem. Ele cita a linha 73 (Santarém-Ponta Negra) para mostrar a dificuldade para se cumprir o tempo estabelecido por viagem nos horários de pico. "O tempo da viagem do 73 é de 120 minutos [duas horas], mas nos horários de pico, tanto de manhã quanto de noite, a viagem é feita em até 200 minutos [ três horas e vinte minutos]. Essa demora no percurso é causada pelo trânsito que parece que piora a cada dia", disse.

O tempo estimado de viagem da linha 15-16 (Pajuçara/Petrópolis/Ribeira) sofreu uma alteração na semana passada justamente porque o tempo não vinha sendo cumprido em nenhum horário. "O tempo de viagem era de 100 minutos e aumentou para 110 minutos, mas a gente sabe que nos horários de pico não é possível cumprir essa meta por causa do trânsito. Mesmo assim nós fazemos o acompanhamento constantemente e sempre que necessário a empresa aumenta o tempo de viagem", diz João Maria Carvalho, que trabalha como despachante da Guanabara há 17 anos. "Muita coisa influenciou e continua influenciando a piora do trânsito desde que eu comecei a trabalhar como despachante: hoje são mais faixas de pedestres que antigamente mal existiam, mais sinais, lombadas eletrônicas, e muito mais carros nas ruas. Há 10 anos quando você vinha para a Zona Norte, por exemplo, quase não tinha carro vindo para cá. Hoje tem trânsito quase que o dia todo".

Queda de desempenho

O diretor de comunicação do Seturn, Augusto Maranhão, cita a linha 33 (Planalto / Praia do Meio) para ilustrar as mudanças implantas pelas empresas de ônibus por conta do trânsito da cidade. "A linha 33 tinha 10 veículos e cada um fazia 10 viagens por dia, ou seja, eram 100 viagens por dia nesse itinerário. Com a piora no trânsito da cidade, os motoristas só conseguem cumprir seis viagens por dia, o que representou uma perda de 40 viagens exclusivamente por causa do trânsito". Ele explicou que para o usuário não ser prejudicado a empresa colocou sete ônibus a mais nessa linha, o que permitiu um aumento de 2% no número de viagens. "Nós aumentamos a frota dessa linha em 70%, mas o ganho em número de viagens foi de apenas 2%. Ou seja, o trânsito na cidade tem exigido muito mais investimentos por parte dos empresários".

Ele acredita que, além do aumento no número de veículos nas ruas, o grande problema do trânsito de Natal atualmente é a falta de educação e conscientização dos motoristas. "Lamentavelmente o motorista de Natal ainda acha que estána década de 1960 e que pode parar em qualquer avenida movimentada com o pisca alerta ligado que está tudo bem. Não é assim. Nós precisamos urgentemente de um trabalho de educação para esses motoristas, para ajudar o trânsito a fluir melhor".

Fonte: Diário de Natal