Modelo de trânsito da cidade é questionado

Por Roberto Lucena - Repórter da Tribuna do Norte

É impossível escapar dele. Indo ao trabalho, escola ou retornando para casa, o natalense enfrenta, diariamente, nas ruas e avenidas da cidade, um trânsito que desafia a paciência de todos. Seja de carro, moto ou ônibus, a tarefa de ir e vir torna-se, dependendo do horário, uma atividade estressante. Investir no transporte público coletivo é apontado pelos especialistas como uma das soluções para o problema dos engarrafamentos. No entanto, até então, poucas ações foram feitas nesse sentido.

Frankie Marcone


A secretaria municipal de Mobilidade Urbana (Semob) quer implantar, nos próximos dias, uma faixa semi-exclusiva para ônibus na Salgado Filho. A ação visa melhorar o fluxo de veículos na avenida. Para o doutor em engenharia de transporte, Enilson Santos, outras medidas de baixo custo podem ser adotadas com o objetivo de desafogar o trânsito. Porém, as obras de intervenção são necessárias para resolver a questão a longo prazo. "Não é apenas uma ação que vai modificar o que temos hoje. É preciso várias decisões e obras viárias", disse.

Segundo o engenheiro, antes de qualquer ação, a Semob precisa coletar dados sobre o trânsito. Enilson acredita que há poucas informações disponíveis. "O grande problema do trânsito de Natal é que nós não temos informações sobre ele", alegou. O titular da Semob, Márcio Sá, afirmou que algumas ações pontuais foram e estão sendo realizadas. "Colocamos rotatórias, fechamos alguns retornos, sinalizamos algumas vias. São ações pontuais capazes de gerar grandes benefícios", disse.

Enilson Santos acredita na possibilidade de novas ações pontuais. Uma delas, seria a continuidade do projeto "Via Livre" em algumas avenidas da cidade. Outra forma de desafogar o trânsito, seria o estudo do tempo dos semáforos da cidade. "O Via Livre é muito bom. Todo mundo reclamava por causa do estacionamento, mas nunca vi ninguém morrendo por falta de vaga para estacionar", disse.

Márcio Sá informou que o projeto não foi encerrado, no entanto, admite que houve uma redução na fiscalização. "É um processo natural. Começamos a fiscalizar e todo mundo obedece. A fiscalização relaxa. Por um tempo, todo mundo continua respeitando, mas quando percebem que não há mais fiscalização, voltam a estacionar em local e horário proibidos", contou. O secretário disse ainda que os flanelinhas que trabalham nas avenidas, especialmente a Afonso Pena, colaboram para o projeto falhar. "Eles quebram as placas de sinalização e informam aos motoristas que é possível estacionar sem ser multado. Infelizmente ocorre isso".

Com relação à faixa semi-exclusiva para os ônibus na Salgado Filho, Márcio afirmou que a ideia é deixar a faixa da direita (sentido Centro) livre para ônibus. Os carros e motos podem circular no local desde que seja para fazer conversão à direita.

As obras de mobilidade urbana, previstas para a Copa do Mundo 2014, são apontadas como a tábua de salvação para o trânsito de Natal. Porém, o jurista e urbanista Edésio Fernandes, que está na cidade para participar de eventos relacionados ao tema, discorda da tese. "É impressionante ver a pobreza do transporte público em Natal. Esse modelo que querem implantar em Natal me parece que é mais uma oportunidade de investir em um modelo de urbanização insustentável. Essa era uma oportunidade de mudar esse padrão. Investir em transporte público", disse.

Outra ideia defendida pela Semob, mas que até agora não foi posta em prática, é a transformação do quadrilátero formado pelas avenidas  Bernardo Vieira, Jaguarari, Rui Barbosa e Miguel Castro em vias binárias. O projeto foi apresentado pela secretaria à prefeita Micarla de Sousa, bem como ao Comitê Gestor da Copa do Mundo de 2014, em setembro passado. Proposta está em estudo.

Fonte: Tribuna do Norte