Chico Anysio: filho do dono de uma empresa de ônibus
Fonte: Blog Ônibus Brasil
Matéria / Texto: Adamo Bazani, da Rádio CBN
Matéria reproduzo no portal: Ônibus Paraibanos
Matéria / Texto: Adamo Bazani, da Rádio CBN
Matéria reproduzo no portal: Ônibus Paraibanos
O Brasil se despede de um dos maiores humoristas cuja história reflete parte da memória do humor e da TV brasileira: Chico Anysio, ou Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, criador de 209 personagens, morreu nesta sexta-feira, dia 23 de março de 2012, aos 80 anos de idade por falência de múltiplos órgãos no Hospital Samaritano, do Rio de Janeiro, onde estava internado desde o dia 22 de dezembro de 2011. Confiram nessa matéria, de autoria do jornalista da Rádio CBN Adamo Bazani, parte da história do grande humorista Chico Anysio, que está relacionada diretamente com ônibus; não deixem de ler!
Com saúde debilitada, ele já tinha sido internado várias vezes nos últimos anos. Entre seus personagens, não é possível dizer qual foi o melhor ou o que agradou mais ao público, mas certamente, o professor Raimundo foi o mais emblemático. E a trajetória de Chico Anysio começou com a força de uma família que precisava se reerguer na vida. Nascido em Maranguape, no interior do Ceará, em 12 de abril de 1931, Chico tinha uma vida estável. Seu pai, Francisco Anysio de Oliveira Paula, tinha uma empresa de ônibus no local.
Como transportador, as lutas eram grandes. Com ônibus simples vencia estradas de terra, atoleiros, mas conseguia trazer o sustento e a prosperidade para sua família. Ele trabalhava muito, segundo o filho. Mas por volta de 1938, quando Chico tinha 7 anos de idade aproximadamente, a família sofreu um abalo financeiro. A frota de ônibus de seu pai pegou fogo. O incêndio destruiu todo o patrimônio de Francisco Anysio, o pai.
Em seu site, Chico Anysio declarou já há alguns anos, sobre o incêndio dos ônibus do pai que o fato mudou a vida da família repentinamente: “Um dia a garagem dos ônibus pegou fogo. Não havia seguro. Acordamos pobres. Eu não sabia de nada. Nem da bastança anterior nem da penúria que viria”. No entanto, como batalhadores, ninguém da família quis desistir de lutar, apesar, claro, do abalo. O pai continuou no Ceará. Não ficou no ramo de ônibus, mas continuou trabalhando com transportes, como construtor de estradas.
Chico, com a mãe, dona Haydée, e mais três irmãos, mudou-se para o Rio de Janeiro, logo depois do incêndio na garagem de ônibus. Chico Anysio tinha 08 anos de idade. Logo se matriculou em bons colégios e aos 16 anos teve de se alistar no exército. É que sua certidão de nascimento tinha o registro de que ele nascera dois anos antes da data real, em 1929. Chico estudou para ser advogado, quis ser jogador de futebol, mas se enveredou na vida artística como se fosse realmente uma força maior que determinasse.
Em um dos dias de partida de futebol, esqueceu-se da chuteira e passou em casa. A irmã Lupe e um amigo iriam fazer um teste na Rádio Guanabara. Chico decidiu acompanhá-los e passou nos testes que nem havia marcado. O primeiro colocado, no entanto, foi Silvio Santos. O rádio sempre foi o grande veículo de massa no Brasil. As programações de humor, musicais, shows, auditórios e noticiários tinham como palcos os estúdios das rádios brasileiras. A rádio desvendava talentos e não produzia.
E foi em 1952, na Rádio Mayrink Veiga que foi criada a Escolinha do Professor Raimundo. O sucesso nas rádios chamou a atenção da TV, ainda nova no País. Chico Anysio passou pela TV Rio, onde nasceu o Chico Anysio Show, pela TV Excelsior, TV Tupi e TV Record, até ser contratado pela TV Globo em 1968. Sua maestria não se limitou a bons personagens. Ele tinha bons textos, enxergava talentos e os revelava. Chico trabalhou com Paulo Gracindo, Grande Otelo, Costinha, Walter D’Ávila, Jô Soares, Renato Corte Real, Agildo Ribeiro, Ivon Curi, José Vasconcellos.
O humorista tinha também uma visão política bem apurada. Tanto é que em plena Ditadura Militar conseguia com humor fazer críticas ao regime. Chico também intermediou o exílio de Caetano Veloso em Londres. Caetano e Gilberto Gil tinham sido presos dias depois da decretação do AI 5 – Ato Institucional número 5, da Ditadura Militar, um dos mais severos. Dois anos depois de Caetano estar exilado, foi Chico que escreveu a carta recomendando que o cantor voltasse. Além de todo o talento para o humor, Chico também era pintor e fazia quadros relacionados ao cotidiano. Participou também de diversos filmes.
Chico Anysio casou-se diversas vezes. Suas esposas foram Nancy Wanderley, Rose Rondelli, Regina Chaves, Alcione Mazzeo, ex-Ministra da Economia do governo Collor Zélia Cardoso de Mello e a empresária a Malga Di Paula. O artista teve oito filhos. Em um documentário exibido pela TV Brasil, Chico Anysio disse que nunca teve vocação para o ramo do pai: transportar, mas que reconhece que foi por ele que sua família se manteve e depois teve oportunidade de mudar de vida, mesmo com o fato triste do incêndio da garagem de ônibus de Francisco Anysio. Mesmo não sendo transportador, Chico Anysio conseguia transportar. Ele levava um sorriso aos lábios e principalmente ao coração dos brasileiros, cuja realidade ele representava tão bem com seus personagens e seus textos.
Fica a singela homenagem deste espaço.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes
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Especial