Usuários reclamam do tempo-limite sobre o Passe Livre em Natal

Por Sérgio Henrique Santos



Quando a bilhetagem eletrônica foi lançada em Natal, a prefeitura anunciou aos quatro cantos seus benefícios. Há dois anos veio o Passe Livre, que possibilita a integração gratuita de duas linhas num intervalo máximo de uma hora. Muitos usuários reclamam desse tempo-limite, alegando que em horários de pico não é possível pegar o segundo ônibus antes que seja cobrada nova passagem. Agora, as reclamações se referem ao tempo mínimo de 10 minutos para fazer uso do Passe Livre, um dos muitos problemas que os usuários do sistema enfrentam na capital do Rio Grande do Norte. A prática é adotada nos ônibus, mas não está regulamentada nenhuma lei ou decreto da prefeitura.

Jeferson Luís Pires Rocha, 25 anos, servidor público federal, é um desses natalenses insatisfeitos com o sistema de transporte coletivo. Primeiro porque ele mora no conjunto Pirangi, em Neópolis, e quando precisa ir de Ponta Negra para casa não há linhas de ônibus disponíveis. Recentemente Jefersonficou indignado com o tempo mínimo. "Uma vez vinha do Praia Shopping ao conjunto Pirangi. Peguei um 83, desci na Ayrton Senna e logo que desci, veio o 31. Realmente foi em menos de dez minutos. Meu cartão foi rejeitado e o cobrador disse que havia esse prazo mínimo. A sorte foi que uma amiga que estava comigo pagou a passagem. Meu cartão estava zerado", relatou.

Apenas após o fato ele observou um aviso que consta nos ônibus, alertando para o tempo mínimo. O usuário procurou a Semob e foi informado que o tempo mínimo é novidade. "Alegaram que essa medida é para acabar com aquele comércio irregular que existe nas paradas de ônibus. Mas a medida foi criada sem que legislação alguma estabeleça isso. Foi uma decisão do Seturn, que sequer ouviu os usuários. A maioria da população está pagando por algo que uma minoria está fazendo", protesta Jeferson, que sugeriu a instalação de um relógio para que os usuários saibam pelo menos o tempo-limite para usar novamente o cartão do Sistema Automatizado de Bilhetagem Eletrônica (Sabe), nome oficial da tecnologia.

Ana Maria Araújo, empregada doméstica que utiliza seu cartão diariamente, afirma que nunca teve problema com o tempo-mínimo, e sim com os 60 minutos máximos permitidos aos usuários do cartão de passagem. "Moro em Nova Natal e trabalho em Ponta Negra. Às vezes o 03 demora a passar em Cidade Jardim, onde pego meu ônibus de volta. Várias vezes perdi meu Passe Livre. Sem falar que a maioria dos ônibus são velhos e sempre rodam muito cheios", afirma.

Seturn justifica, mas Semob diz desconhecer tempo mínimo para integração

O diretor de comunicação do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Município do Natal (Seturn), Augusto Maranhão, contesta as reclamações do usuário. "A maioria dos janelinhas está fazendo a propaganda negativa da bilhetagem", afirma. O empresário se refere aos ambulantes que compram cartões de vales-transportes e vendem irregularmente nas paradas de ônibus mais movimentadas por um preço menor do que R$ 2,20, valor da tarifa de ônibus em Natal. "Dez minutos é o tempo mínimo para subir num ônibus, sentar e descer. O sistema começa a computar a partir do momento em que o usuário comum cruza a roleta. Optamos por essa prática porque, nesses dez minutos, ocorrem 90% das fraudes aqui em Natal".

As fraudes a que se refere o diretor do Seturn são justamente a prática dos janelinhas, que ficam oferecendo passagens mais baratas nas paradas de ônibus. "Como em 60 minutos o cartão pode ser utilizado duas vezes, eles ganhavam duplamente, prejudicando o usuário comum, o trabalhador que usa seu cartão de forma correta. Foi a forma que encontramos para coibir essa fraude exagerada", afirma o diretor. A medida é polêmica porque, na prática, limita a 50 minutos o tempo total que o usuário terá ao fazer uso do Passe Livre.

Uma pesquisa da Consult encomendada pelo Seturn revelou que 5% das integrações são reais. Dez por cento são fraudadas. "Isso significa que 500 mil integrações são oficiais, corretas. Mais de um milhão de deslocamentos são fraudados em Natal". Augusto também se defende das acusações de que o sistema entra em desacordo com alguma determinação legal da Semob. "Isso depende da gestão financeira das empresas. O tempo máximo, estabelecido pela Semob, continua sendo cumprido".

Ana Elizabeth Thé Bonifácio Freire, secretária de Mobilidade Urbana (Semob) esteve em reunião e não pôde falar ao Diário de Natal. O secretário-adjunto, Haroldo Maia, disse que a secretaria estabelece apenas o limite da integração em até 60 minutos. A respeito do tempo mínimo para uso do cartão dos ônibus, Haroldo declarou com todas as letras: "A Semob desconhece essa prática".

Fonte: DN Online