Engarrafamentos, buracos e paciência
Isaac Lira - repórter
O aumento do tempo de viagem nas linhas de ônibus de Natal é um fato que ultrapassa as estatísticas. Embora o Sindicato das Empresas de Ônibus de Natal (Seturn) não tenha uma média geral do tempo gasto nas viagens de coletivo pela cidade, o aumento desse tempo é perceptível e faz parte do cotidiano de motoristas, cobradores e passageiros. "Não quantificamos uma média geral para todas as linhas, mas temos esse cálculo individualmente, itinerário por itinerário. Em alguns casos, o aumento foi significativo",diz o diretor Augusto Maranhão.
Para quantificar esse aumento, a TRIBUNA DO NORTE percorreu os mais de 30 quilômetros de percurso da Linha 33, que vai do bairro Planalto até Mãe Luíza. Segundo dados do Seturn, em 2007 o percurso era feito em 75 minutos. Hoje, o tempo oficial é de 110 minutos - 46% maior que o registrado há quatro anos - embora possa ser ainda maior em horários de pico. No mesmo período, o número de ônibus pulou de 100 para 180 unidades, enquanto o número de viagens subiu de 100 para 108. Ou seja: o número de veículos subiu 80%, enquanto a oferta de viagens aumentou apenas 8%. No meio do caminho, engarrafamentos, buracos e muita paciência.
7h Mais um veículo da linha 33 (Planalto/Mãe Luíza) sai do terminal da empresa Cidade do Natal, no bairro Planalto. Pelo horário, a cobradora e o motorista já esperam ônibus lotado e atrasos na rota. Trata-se de um dos momentos do dia de maior demanda para a linha, que é a única a levar os moradores do Planalto à BR-101/Salgado Filho.
As outras linhas disponíveis para o Planalto têm outros itinerários. Segundo a previsão, o ônibus deve estar de volta ao terminal às 08h50. A cobradora tenta disciplinar o posicionamento dos passageiros, porque muitos se concentram no meio do ônibus, impedindo a entrada de mais pessoas ao mesmo tempo em que a parte traseira do ônibus ainda tem vagas. "Gente, por favor, vamos sair do meio do ônibus", pede a cobradora.
7h20 Antes de sair da rua principal do bairro Planalto (rua Miramangue), o itinerário já apresenta as suas principais características: bastam duas paradas para não haver mais vaga no interior do veículo. A outra característica é o atraso. Com menos de 500 metros percorridos, a linha 33 acumula 15 minutos de atraso em relação ao tempo previsto. O motivo é a demora para os passageiros entrarem, compreensível tendo em vista uma demanda maior do que a oferta. O simples ato de posicionar o cartão de vale-transporte no local indicado ou de entregar o dinheiro para o cobrador, significa atraso no fim da viagem. Nesse horário, ainda não há reclamação de passageiros. Eles estão calados, bocejantes, à espera do fim de seu percurso.
7h30 O ônibus chega à BR-101 após percorrer as ruas do bairro Planalto e algumas de Cidade Satélite. Antes disso, foi necessário pular algumas paradas de ônibus por excesso de passageiros. Logo atrás, outro veículo da linha 33 recolhe os que ficaram para trás. A cada seis minutos, um novo ônibus sai do terminal em horários de pico. Mesmo assim, a demanda não é satisfeita de forma confortável. Com os atrasos, há três veículos da mesma linha praticamente "colados". Quem chegar alguns minutos atrasados, perderá os três ônibus de uma vez e terá de esperar por um longo período até conseguir condução. Os atrasos irritam os passageiros e alguns já entram reclamando. "Está cada vez pior, cada vez pior", reclama uma senhora, que estava atrasada para o trabalho. A linha segue.
7h45 O Viaduto do Quarto Centenário é um dos pontos mais problemáticos. Antes disso, o veículo demorou 25 minutos para sair da BR-101 e chegar ao viaduto. A partir do Sam´s Clube, o trânsito da BR se torna impraticável. Não há respeito pela faixa da direita, exclusiva para ônibus, e a pista é pequena para a quantidade de veículos existentes. As entradas e saídas das marginais por sua vez aumentam o tempo de espera. Na parada do Shopping Via Direta, metade dos passageiros descem, o que demonstra que boa parte da demanda da linha 33 é direcionada para a BR-101. A partir de então, boa parte da perda de tempo será ocasionada pelos buracos nas vias municipais da cidade.
8h O trecho da avenida Prudente de Morais é problemático até chegar ao cruzamento com a avenida Alexandrino de Alencar. Essa parte do caminho concentra também a maior parte da demanda de passageiros. Após a Alexandrino, o ônibus vai se esvaziando. A quantidade de lojas ao longo da Prudente de Morais atrai motoristas dispostos a estacionar na faixa da direita. Os ônibus são obrigados a mudarem constantemente de faixa, diminuindo a velocidade do trajeto.
8h20 O sinal entre a Prudente de Morais e a avenida Cordeiro de Farias, em frente à Maternidade Januário Cicco, é mais um gargalo. O sinal abre e fecha pelo menos duas vezes antes de o veículo conseguir seguir a rota, por conta do número de carros e motos à espera de passagem.
8h30 Aqui está o ponto que marca o fim percurso de ida: a saída da rua Tuiuti, em Mãe Luíza, para a avenida Hermes da Fonseca. Praticamente todo o tempo disponível para o itinerário foi tomado pela ida do ônibus até Mãe Luíza. Quase vazio, o ônibus da linha 33 passa a trafegar com mais velocidade, por conta do menor fluxo de veículos no sentido Centro/BR-101 pela avenida Prudente de Morais. É preciso recuperar o tempo perdido.
9h16 O ônibus chega ao terminal. Motorista e cobradora teriam direito a uma hora de descanso, da qual são descontados os inevitáveis atrasos. No final, o descanso dos dois funcionários cai para 45 minutos. Segundo os dados da roleta, cerca de 290 passageiros utilizaram aquele ônibus em todo o percurso, que levou duas horas e 16 minutos. Isso significa 26 minutos de atraso em relação ao tempo inicialmente previsto.
Fonte: Tribuna do Norte
Foto de: Emanuel Amaral |
O aumento do tempo de viagem nas linhas de ônibus de Natal é um fato que ultrapassa as estatísticas. Embora o Sindicato das Empresas de Ônibus de Natal (Seturn) não tenha uma média geral do tempo gasto nas viagens de coletivo pela cidade, o aumento desse tempo é perceptível e faz parte do cotidiano de motoristas, cobradores e passageiros. "Não quantificamos uma média geral para todas as linhas, mas temos esse cálculo individualmente, itinerário por itinerário. Em alguns casos, o aumento foi significativo",diz o diretor Augusto Maranhão.
Foto de: Emanuel Amaral |
Para quantificar esse aumento, a TRIBUNA DO NORTE percorreu os mais de 30 quilômetros de percurso da Linha 33, que vai do bairro Planalto até Mãe Luíza. Segundo dados do Seturn, em 2007 o percurso era feito em 75 minutos. Hoje, o tempo oficial é de 110 minutos - 46% maior que o registrado há quatro anos - embora possa ser ainda maior em horários de pico. No mesmo período, o número de ônibus pulou de 100 para 180 unidades, enquanto o número de viagens subiu de 100 para 108. Ou seja: o número de veículos subiu 80%, enquanto a oferta de viagens aumentou apenas 8%. No meio do caminho, engarrafamentos, buracos e muita paciência.
7h Mais um veículo da linha 33 (Planalto/Mãe Luíza) sai do terminal da empresa Cidade do Natal, no bairro Planalto. Pelo horário, a cobradora e o motorista já esperam ônibus lotado e atrasos na rota. Trata-se de um dos momentos do dia de maior demanda para a linha, que é a única a levar os moradores do Planalto à BR-101/Salgado Filho.
As outras linhas disponíveis para o Planalto têm outros itinerários. Segundo a previsão, o ônibus deve estar de volta ao terminal às 08h50. A cobradora tenta disciplinar o posicionamento dos passageiros, porque muitos se concentram no meio do ônibus, impedindo a entrada de mais pessoas ao mesmo tempo em que a parte traseira do ônibus ainda tem vagas. "Gente, por favor, vamos sair do meio do ônibus", pede a cobradora.
7h20 Antes de sair da rua principal do bairro Planalto (rua Miramangue), o itinerário já apresenta as suas principais características: bastam duas paradas para não haver mais vaga no interior do veículo. A outra característica é o atraso. Com menos de 500 metros percorridos, a linha 33 acumula 15 minutos de atraso em relação ao tempo previsto. O motivo é a demora para os passageiros entrarem, compreensível tendo em vista uma demanda maior do que a oferta. O simples ato de posicionar o cartão de vale-transporte no local indicado ou de entregar o dinheiro para o cobrador, significa atraso no fim da viagem. Nesse horário, ainda não há reclamação de passageiros. Eles estão calados, bocejantes, à espera do fim de seu percurso.
7h30 O ônibus chega à BR-101 após percorrer as ruas do bairro Planalto e algumas de Cidade Satélite. Antes disso, foi necessário pular algumas paradas de ônibus por excesso de passageiros. Logo atrás, outro veículo da linha 33 recolhe os que ficaram para trás. A cada seis minutos, um novo ônibus sai do terminal em horários de pico. Mesmo assim, a demanda não é satisfeita de forma confortável. Com os atrasos, há três veículos da mesma linha praticamente "colados". Quem chegar alguns minutos atrasados, perderá os três ônibus de uma vez e terá de esperar por um longo período até conseguir condução. Os atrasos irritam os passageiros e alguns já entram reclamando. "Está cada vez pior, cada vez pior", reclama uma senhora, que estava atrasada para o trabalho. A linha segue.
7h45 O Viaduto do Quarto Centenário é um dos pontos mais problemáticos. Antes disso, o veículo demorou 25 minutos para sair da BR-101 e chegar ao viaduto. A partir do Sam´s Clube, o trânsito da BR se torna impraticável. Não há respeito pela faixa da direita, exclusiva para ônibus, e a pista é pequena para a quantidade de veículos existentes. As entradas e saídas das marginais por sua vez aumentam o tempo de espera. Na parada do Shopping Via Direta, metade dos passageiros descem, o que demonstra que boa parte da demanda da linha 33 é direcionada para a BR-101. A partir de então, boa parte da perda de tempo será ocasionada pelos buracos nas vias municipais da cidade.
8h O trecho da avenida Prudente de Morais é problemático até chegar ao cruzamento com a avenida Alexandrino de Alencar. Essa parte do caminho concentra também a maior parte da demanda de passageiros. Após a Alexandrino, o ônibus vai se esvaziando. A quantidade de lojas ao longo da Prudente de Morais atrai motoristas dispostos a estacionar na faixa da direita. Os ônibus são obrigados a mudarem constantemente de faixa, diminuindo a velocidade do trajeto.
8h20 O sinal entre a Prudente de Morais e a avenida Cordeiro de Farias, em frente à Maternidade Januário Cicco, é mais um gargalo. O sinal abre e fecha pelo menos duas vezes antes de o veículo conseguir seguir a rota, por conta do número de carros e motos à espera de passagem.
8h30 Aqui está o ponto que marca o fim percurso de ida: a saída da rua Tuiuti, em Mãe Luíza, para a avenida Hermes da Fonseca. Praticamente todo o tempo disponível para o itinerário foi tomado pela ida do ônibus até Mãe Luíza. Quase vazio, o ônibus da linha 33 passa a trafegar com mais velocidade, por conta do menor fluxo de veículos no sentido Centro/BR-101 pela avenida Prudente de Morais. É preciso recuperar o tempo perdido.
9h16 O ônibus chega ao terminal. Motorista e cobradora teriam direito a uma hora de descanso, da qual são descontados os inevitáveis atrasos. No final, o descanso dos dois funcionários cai para 45 minutos. Segundo os dados da roleta, cerca de 290 passageiros utilizaram aquele ônibus em todo o percurso, que levou duas horas e 16 minutos. Isso significa 26 minutos de atraso em relação ao tempo inicialmente previsto.
Fonte: Tribuna do Norte